Não precisa ser nenhum especialista para saber que o consumismo se tornou obsoleto e nocivo à nossa própria sociedade. Ironicamente, a poluição, o aquecimento global, a destruição das florestas e a exploração desenfreada dos recursos naturais, gerados pelo consumismo, reverberam graves consequências a nossa própria existência. O problema está na relação direta entre a economia de consumo e a destruição do ecossistema global - uma economia que para não estagnar, exige a produção de cada vez mais lixo, deve ser repensada.
Uma vez que preservar a vida e o ambiente em que ela se propaga é fator primordial para a existência de modelos econômicos, concluo que qualquer indivíduo, por mais consumista que o seja, aceitará como fato consumado, a necessidade urgente de estabelecer nossos modelos de negócio em bases sustentáveis.
A boa notícia é que sinais de mudanças começam a surgir. A economia compartilhada e o aumento na migração da venda de produtos para a oferta de serviços, sugerem um comportamento coletivo mais consciente das consequências geradas pelo modelo de consumo atual. Mas, o maior poder de transformação de como consumimos ou fazemos negócios está no desenvolvimento das tecnologias, em especial, da inteligência artificial. Sem dúvida, ela tem o potencial de mudar a forma como vivemos. Está revolucionando a medicina, a educação, a indústria, a agricultura, o serviço, as interações humanas e o ambiente em que vivemos.
Apesar de traçar os caminhos do amanhã, a inteligência artificial não tem nada de futurista. Dia a dia milhões de pessoas a carregam no bolso em seus smartphones, experimentam o atendimento do call center de seu banco, acessam o Facebook, abrem uma conta no Nubank, ou têm seus dados coletados no site da Amazon. Estima-se ainda, que a presença de todos os tipos de robôs em nossa rotina, deve triplicar nos próximos 10 anos.
Embora sua significância seja indiscutível, a inteligência artificial não deve ser o foco do negócio, mas sim as pessoas. As pessoas são a fonte da inovação e das vantagens competitivas de um negócio, e se você deseja argumentos numéricos para reposicionar o seu negócio e colocar as pessoas no centro das tomadas de decisão, saiba que estudos publicados pelas Big Four do mundo da consultoria, mostraram a relação direta entre a gestão com foco em pessoas e o desempenho do negócio – o comprometimento com as pessoas traz melhores resultados para os acionistas a médio e longo prazo.
Vale ressaltar que, do ponto de vista econômico, o maior legado desta pandemia será o desemprego, o que torna urgente a necessidade de conduzir os negócios na direção de promover o bem-estar e o combate à desigualdade social. As empresas precisam se empenhar para descobrir novas formas de trabalho e se comprometer com a geração de impacto positivo, maximizando seu valor para a sociedade como um todo.
Neste contexto, os negócios devem se estabelecer como empresas humanizadas. Pareceu um tanto romântico? Lembre-se de que a dedicação às pessoas anda junto à lucratividade do negócio. No entanto, a relação estabelecida deve ir além dos contratos mais justos de trabalho, ela deve formar uma aliança valorosa entre negócios e pessoas. Mas como criar um elo capaz de unir empresas e pessoas em torno de um objetivo comum e assim transformar cultura organizacional em ativo? A resposta para esta pergunta está em definir uma proposta clara, sobre como o negócio irá contribuir para melhorar o mundo. Para sobreviver a longo prazo, a estratégia da empresa precisará de um valor forte, capaz de inspirar, dar orientação prática e unir pessoas em torno de um objetivo maior.
Modelos de negócios focados em pessoas, sustentáveis e inteligentes, não devem ser apenas para as grandes marcas, principais influenciadoras do comportamento de consumo das pessoas. Sendo os pequenos negócios a parcela que mais cresce na economia e os maiores empregadores do mercado, é necessário que essas práticas sejam incorporadas a sua cadeia de valor para que de fato, a economia seja positivamente impactada. Mas não se engane, este é um longo caminho que passa pela educação e por mudanças de mentalidade.
Uma boa forma do empreendedor iniciar a disruptiva com modelos de negócios antiquados ao mundo atual, é adquirindo novos conhecimentos. De acordo com o Sebrae, ser sustentável dá lucro. Para mostrar isso, o Centro Sebrae de Sustentabilidade criou as 12 Dimensões da Sustentabilidade e ensina passo a passo como ser lucrativo, reduzir desperdícios e proporcionar o bem estar dos funcionários. Sim, a criação de bem estar e o combate à desigualdade social também devem pautar os modelos de negócio.
A utilização inteligente dos recursos naturais é uma questão de sobrevivência, não desta geração, mas certamente das próximas. Nós, homo sapiens, chegamos ao topo da cadeia alimentar por meio de um processo cognitivo avançado, que foi capaz de resolver os mais diversos problemas da sobrevivência, assim dominamos o mundo e todo o seu ecossistema. Agora, é hora de descobrir se o nosso processo cognitivo dará mais um salto evolutivo e mostrará o caminho para uma economia que não seja capaz de exterminar a própria espécie que a criou.
Ironias deixadas de lado, é fato que uma econômica que se sustenta pela produção da obsolescência, deva ser questionada. Idealizar a coexistência sustentável e inteligente entre negócios e pessoas, pode soar como utópico e distante. No entanto, esta pandemia no mínimo nos fez refletir sobre o futuro da humanidade e repensar nossas atitudes diante da vida. E essa reflexão deve ser estendida aos negócios, para que estes participem ativamente dessa profunda reavaliação. Um mundo de novos desafios exige novos pensamentos. A pergunta é: temos capacidade e flexibilidade para orientar os negócios em uma nova direção? Contudo, para qual direção?
Objetivo: Pesquisa e Interação – Em sua opinião, quais são os 3 pilares que devem sustentar os negócios do futuro?