Tempos Modernos é um clássico do cinema, tendo se tornado símbolo da inquietação social decorrente dos impactos da automação instaurada nas primeiras fases da Revolução Industrial. O filme questiona e critica, por meio da atuação icônica de Charles Chaplin, a situação humana no processo de automatização do mundo pelas máquinas.
Além da importância do filme na época, fomentando awareness e discussão sobre a transformação do trabalho e suas consequências imediatas na estrutura da sociedade, acredito que esse filme continue sendo bastante instigante para discutir as transformações atuais, na revolução digital, a onda mais recente da Revolução Industrial. Traçando um paralelo entre o início do século com os dias atuais, as cenas do filme que mostram linhas de montagem e automatizações mecânicas na vida humana (questionando quem serve quem na relação homem/máquina), poderiam ser usadas para a mesma reflexão em relação ao uso das tecnologias atuais, as digitais, e o eventual poder que elas têm em gerar automação e alienação simultaneamente. Ao invés de um operário mecânico apertando parafusos em uma linha de montagem física, poderíamos argumentar que hoje temos indivíduos hipnotizados criando e consumindo feeds digitais em seus perfis sociais, de forma automática, alienada. Outra questão do filme de 1936, que continua extremamente atual, é o desconforto com a possibilidade de insegurança dos processos de automação, que é apresentado na cena da alimentação robotizada em https://www.youtube.com/watch?v=XLF1JZCxpxw. Hoje, os processos de automatização não são mais mecânicos, mas digitais, e qualquer falha em seus algorítmos, tem potencial para um impacto muito maior na sociedade, como aconteceu em 2010 com a bolsa de valores dos Estados Unidos, com um impacto de U$ 1 trilhão (ver em https://en.wikipedia.org/wiki/2010_Flash_Crash).