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Cérebro analógico, cérebro digital

Cérebro analógico, cérebro digital
Martha Gabriel
nov. 27 - 3 min de leitura
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Somos cada vez mais homo digitalis, misturando a natureza biológica individual com o aparato tecnológico.

O cérebro humano vem permitindo a nossa evolução ao longo do tempo devido à sua capacidade de se adaptar às modificações do ambiente. Isso acontece desde o início da nossa existência — mas, nas últimas décadas, uma nova variável entrou nessa equação: o ritmo da mudança. Se nos séculos passados ela era lenta, passou a sofrer uma aceleração vertiginosa por causa da tecnologia. A grande questão é: como isso impacta o nosso cérebro? Será que ele acompanha o novo passo para a evolução?

A mera existência de computadores, redes sociais, sensores, busca, smartphones e apps não nos torna mais inteligentes. Mas é provado que quando incorporamos as tecnologias de forma a ampliar nossas capacidades físicas e cerebrais, nos tornamos, sim, mais poderosos. No livro As Tecnologias da Inteligência, o filósofo francês Pierre Lévy mostra que lápis e papel permitem resolver problemas lógicos com mais profundidade do que usando apenas o cérebro.

QUANDO USAMOS TECNOLOGIAS PARA AMPLIAR NOSSAS CAPACIDADES FÍSICAS E CEREBRAIS NOS TORNAMOS MAIS PODEROSOS

Conforme surgem as tecnologias digitais, nosso cérebro não apenas as utiliza, mas passa a se expandir para elas, tornando híbridos nosso corpo biológico e o ciberespaço. Esse processo é chamado de cibridismo. Se você tem uma conta de Gmail, por exemplo, provavelmente se sente incompleto, limitado e desconfortável quando está sem conexão. Os seus arquivos e fotos esparramados pela web e seu computador, o processamento de texto, a busca digital, ampliam e distribuem o seu ser biológico em simbiose com o digital. Nosso cérebro tem incorporado a busca digital de modo que não lembramos mais das informações, mas onde encontrá-las: o Google. Esse fenômeno é chamado de Google Effect (qual é a capital do Cazaquistão? Lembrou ou buscou na internet?). Duas consequências principais são decorrentes do cibridismo: 1) estamos vivendo a segunda maior revolução cognitiva da história — a primeira foi a causada pela prensa de Gutenberg e a disseminação do livro; 2) dependemos cada vez mais das tecnologias para viver.

Somos cada vez mais homo digitalis, misturando a natureza biológica analógica individual com o aparato tecnológico universal. Com isso, pavimentamos o caminho não só para que o cérebro consiga acompanhar a escalada tecnológica exponencial, mas também para a construção de um neocórtex coletivo global.


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